A Ilha Misteriosa - Cap. 17: CAPÍTULO VI Pág. 98 / 186

A luz do crepúsculo permitia apenas divisar um compartimento sujo e em desordem, com uma chaminé a um canto. O marinheiro apressou-se a acender a lareira com os ramos e gravetos que lá se encontravam e desse modo puderam ver melhor o que os rodeava.

A cena era, aliás, pouco animadora: uma cama tosca com lençóis desfeitos e amarelecidos pelo tempo, uma chaleira e uma marmita enferrujadas, trajes da marinha apodrecidos, uma Bíblia cheia de bolor... Num dos cantos, descobriram alguns utensílios de carpintaria e de lavoura, duas espingardas caçadeiras, um barril de pólvora e outro de chumbo. Uma coisa era evidente: nada daquilo era usado há muito tempo!

- Ora bem, se o náufrago morreu, como tudo indica, não se enterrou a ele mesmo - concluiu Pencroff. - Amanhã havemos de encontrar o que resta do corpo.

Como entretanto anoitecera, decidiram passar a noite na cabana abandonada. Ao nascer do dia, os três companheiros passaram de imediato ao reconhecimento do local. O casinhoto tinha sido feito com tábuas tiradas do casco de um navio, conforme reparou logo o marinheiro, e a confirmar esta opinião viram um nome escrito numa delas. Faltavam três letras e as restantes estavam meio apagadas pelo tempo, mas os colonos não tiveram dificuldade em decifrar o nome do navio naufragado: Britannia. Isso, porém, pouco interessava para o caso, visto que o objectivo da viagem era recolher o náufrago e desse, vivo ou morto, nem rasto! Os colonos sentiam-se bastante desanimados com a situação, mas não havia mais nada que pudessem fazer; pelo menos, regressariam à ilha Lincoln de consciência tranquila. E como também eram homens práticos, resolveram tirar proveito de tanta coisa boa ao abandono. Spilett e Pencroff encarregaram-se de levar os barris de chumbo e de pólvora para o Boaventura, assim como um ou dois casais de porcos para criação, enquanto Harbert ia à horta apanhar o maior número de sementes possível.





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