- Estás hoje de uma filosofia mefistofélica, meu Fernando - exclamou Deolinda, sorrindo-se. - Não me dirás a que veio todo esse aranzel?
- Foi um desabafo em abono de um amigo meu, vítima infelizmente de um desses pais desnaturados e insensíveis aos mais puros afetos do coração.
- Pois bem: deixemo-nos agora dos outros e tratemos de nós. Ora fala-me com franqueza: Tu, amanhã, na verdade, não vens cá passar a noite por causa das tuas ocupações, ou porque tens outra distração?
Juro-te que não posso vir pelos motivos que já te expus há pouco.
- Está bem; não te esqueças de que sou ciumenta, e sou-o porque te amo muito... As vezes persuado-me que tu já não me tens o amor de outro tempo..
- Enganas-te, meu anjo; juro-te que te quero muito, muitíssimo...
- Acredito-te, mas...
- Mas o quê?
- Nos primeiros dias em que vieste aqui, depois de regressares de casa dos teus pais, notei em ti uma certa frieza e preocupação que me fizeram desconfiar bastante do teu amor.