A Rosa do Adro - Cap. 14: CAPÍTULO 15 Pág. 144 / 202

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Vivemos muito tempo embriagados e entregues aos prazeres de um amor sem mácula... Eu amava-o com esse amor puro e inocente de criança, com a cegueira e loucura de um primeiro afeto, com a força e o vigor de um coração ainda virgem de tais paixões... Ele... também parecia amar-me; pelo menos jurou-mo por mais de uma vez... Como eu lhe ouvia, convicta e inebriada, os seus protestos apaixonados!... Uma noite - noite bem horrível e desgraçada! - deixei-me seduzir, mais do que nunca, pelas suas carícias e pelos seus juramentos. Fora eu talvez a verdadeira culpada da minha ruína, e, demasiadamente fraca para ter a força de fugir a essa alucinação que me fechara os olhos da razão e do decoro, cedi!... Era mulher, e amava!... Ah, Deolindinha, não estranhe o meu procedimento! Quando uma mulher ama como eu amava, quando se tem a convicção das promessas de um homem, não há mulher nenhuma que deixe de satisfazer os mais pequenos caprichos, as mais insignificantes vontades, e de ceder aos rogos, enfim, desse ente a quem deu quantos afetos possuía; o nosso único desejo é provarmos-lhe sempre o nosso amor, com risco até do maior dos sacrifícios: é não o desgostarmos por um só momento, é, enfim, entregarmo-nos toda a ele, viver, sofrer, morrer pelo seu amor!...

A indiferença e o tédio começaram a desenvolver-se nele desde essa noite fatal, e então comecei a descrer do amor que tantas vezes me tinha jurado, e entreguei-me a uma desesperação dolorosa, que começou a matar-me!...

Finalmente, passado algum tempo, esse homem, que jurara amar-me e que sob esse pretexto me roubou o que eu tinha de mais precioso, a honra, dizia-me pela sua própria boca que fizesse por esquecê-lo, e que a recompensa do meu amor e dos meus sacrifícios seria a eterna lembrança que de mim conservaria, e o resto ainda dos seus afetos, pois que a sociedade e os compromissos impediam o nosso casamento!.





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