..
- Pior ainda... Como?!
- Eu lhe conto... Mas de que servem agora narrações que nada devem interessar-lhe?... Olhe, Deolindinha, falemos de outro assunto; é melhor que a menina ignore toda a vida esses horríveis desenganos do mundo...
- Não, não quero; se és minha amiga, Rosa, nada me ocultes; chorarei contigo as tuas infelicidades e compartilharei das tuas mágoas como verdadeira amiga que sou tua.
- Então sempre quer que lhe conte a história das minhas desventuras? - exclamou Rosa, depois de alguns momentos de silêncio, e transparecendo-lhe no rosto um sorriso de indescritível amargura.
- Já to pedi.
- Pois bem: vista a sua insistência, ouça-me:
"Quando eu, ainda ao desabrochar da vida, ignorava o que era sentir o peito agitado por desconhecidas palpitações, quando ainda nem sequer pela mente me passava a ambição de possuir uma alma meiga e sensível que sentisse como a minha, deparou-se-me um homem, um anjo, que, pela doçura das suas palavras, pela convicção dos seus juramentos, pela languidez do seu olhar e pelo conjunto, finalmente, de todas as belezas que o adornavam, me fez estremecer misteriosamente a corda mais sensível do meu coração,-me ao mesmo tempo experimentar, pela vez primeira, sensações e anelos que até aí eram para mim completamente desconhecidos!... Tentei fugir a essa fascinação que me cegava; forcejei por ensurdecer-me às suas apaixonadas declarações, que ecoavam sonoramente no mais recôndito da minha alma: fiz tudo quanto pude para fugir-lhe, porque já parecia antever os futuros dissabores e infelicidades que me traria esse amor, mas não pude!... O piloto do frágil baixei deixou-se fascinar pela beleza de uma praia longínqua, e, perdido nos escolhos daquela imensidade, pereceu!... Já tinha de assim suceder!.