A Rosa do Adro - Cap. 4: CAPÍTULO 4 Pág. 17 / 202

Conteve-se, porém, e, ainda um esforço para se dominar, respondeu, com mal disfarçada indiferença:

- Eu não o esperava, Sr. Fernandinho.

- Não me esperavas! - retorquiu o rapaz. - Então que fazias aqui a esta hora?

- Bem se vê que o senhor desconhece os nossos hábitos, ou pelo menos os meus.

- Não te compreendo...

- Eu lhe explico: nós outras, as raparigas que trabalhamos em casa, costumamos deixar o trabalho logo que a noite começa, e vimos depois descansar um pouco para junto da porta; as que têm conversados esperam por eles e entretêm-se algum tempo a falar-lhes; as que os não têm divertem-se com as raparigas das vizinhanças.

- Visto isso, tu, que não estás a divertir-te com as tuas companheiras, esperas decerto pelo teu conversado, não é assim? - e Fernando proferiu estas últimas palavras, dando à voz uma inflexão de tristeza.

- Oh, meu Deus! - respondeu Rosa em tom magoado. - Pois eu não lhe disse já que não tinha conversado algum?

- Juras-mo, Rosa? - exclamou Fernando com exaltação.

- Que loucura!... Pois que necessidade tinha eu de mentir-lhe?

- Bem, fico satisfeito. Agora cumpre-me satisfazer o teu pedido: aqui tens esta galinhola; foi a única peça de caça que pude hoje matar.

- Ora esta!... Pois o Fernandinho tomou a sério o meu pedido?

- E porque não?

- Mas o que lhe disse foi por simples brinquedo.

- Fosse o que fosse... Aceitas ou não?

- Aceito para não o desgostar.

- Ora ainda bem; estava a ver se, depois de tanto trabalho...

- Então não havia caça? Esforçou-se muito só para me obsequiar?

- Caça havia até de mais; mas eu é que estava de uma infelicidade atroz. Não sei se deva atribuir isso à falta de exercício, se a outro qualquer motivo. O que é certo é que todos os tiros me falhavam, e, se não fosse o teu pedido, Rosa, juro-te que tinha pegado em espingarda e pólvora e atirado tudo para o inferno.





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