- Não sei como pagar-lhe tantos sacrifícios, Sr. Fernandinho.
- É bem fácil satisfazeres o teu desejo. Deveras queres recompensar-me?
- Decerto, mas infelizmente não vejo com quê.
- Vejo eu...
- Oh! então peça; se for coisa que só dependa de mim...
- Olha, Rosa, dá-me o teu coração, a tua vida, e eu ficarei bem recompensado - exclamou o jovem em tom apaixonado.
- Não brinque com essas coisas, Sr. Fernandinho - respondeu a rapariga, tristemente.
Momentos depois, Fernando parava em frente da janela onde estava Rosa, e levava jovialmente a mão ao seu largo chapéu, acompanhando este movimento com as palavras:
- Boas-tardes, branca Rosa...
- Deus lhe dê as mesmas, Sr. Fernandinho - respondeu ela, ainda um pouco comovida.
- Tua avó ralhou-te ontem à noite pela minha causa? - Continuou ele.
- Nada, Sr. Fernandinho, não me disse a mínima coisa, e até me parece que não soube que o senhor esteve aqui.
- Ainda bem; ser-me-ia de bastante pesar se sofresses o mais leve desgosto pela minha causa.
- Olhe, Sr. Fernandinho, tenho aqui uma coisa para lhe dar; é a paga do seu presente de ontem. Uma recompensa bem insignificante, não é verdade?... Mas eu não tenho outra melhor - e, dizendo isto, entregou ao mancebo o ramalhete que pela manhã tinha colhido.
Fernando olhou-o por um momento, levou-o aos lábios e exclamou:
- É muito lindo este ramo e estimo-o por vir das tuas mãos... Ah, mas ainda assim não é com flores que se retribuem paixões!
A jovem corou levemente, mas, fingindo não perceber o sentido daquelas palavras, encaminhou a conversa para assuntos estranhos.
Depois de um curto diálogo, Fernando retirou-se, continuando o seu passeio.
Ao fim da tarde, quando voltava, notou com desgosto que a janela da casa estava fechada e que Rosa não se achava, como na tarde antecedente, encostada à ombreira da porta.