A Rosa do Adro - Cap. 6: CAPÍTULO 6 Pág. 39 / 202

O Sr. Fernando procurou agradar-lhe e conseguiu-o; foi uma grande vitória, e tão grande, que até hoje nenhum rapaz da aldeia a pudera alcançar; do que, porém, nunca me persuadi foi que o senhor chegasse a inspirar-lhe uma paixão tão intensa!... Tive ainda há bem pouco uma prova do que afirmo, porque ela quase chegou a mostrar-

me desejos de nunca mais me falar, a mim que até há bem pouco tempo gozava de toda a sua estima e a quem ela dava toda a preferência! Quer saber ainda mais? Eu fui tão louco que chegara a acreditar até que ela me amava e que se daria, como eu, por muito feliz, se um dia Deus juntasse os nossos destinos e as nossas almas!... Como me enganei!... Enfim, não era eu o predestinado para tantas venturas!

- Talvez te iludas, António - respondeu Fernando, secretamente orgulhoso por aquelas palavras. - Sonda bem o coração de Rosa e talvez encontres nele um desmentido às tuas suposições; as aparências muitas vezes enganam.

- Oh, não me enganam estas! O Sr. Fernando matou para o mundo o coração desta pobre criança e fechou-lhe até os sentimentos de amizade para todos nós...

- Parece que a amas muito, não é verdade?

- Amei-a, sim; para que negá-lo? Esta afeição começou quase no berço.

- E já não a amas?

- Talvez não; quem sabe? Há bálsamos para todas as feridas. Não haverá também um para esta que me dilacera a alma?

- Deves aborrecer-me bastante!...

- Não sei pelo quê...

- Por ter roubado o coração que julgavas pertencer-te, se é que to roubei.

Estas palavras emudeceram António por alguns minutos, e nesse espaço pareceu meditar a resposta que deveria dar. Ergueu afinal a cabeça com ímpeto, cravou no seu interlocutor um olhar calmo, mas expressivo, e respondeu com exaltação:

- Não o aborreço.





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