A Rosa do Adro - Cap. 8: CAPÍTULO 8 Pág. 61 / 202

ondear-lhe distraidamente os cabelos, soltos ao capricho da aragem; aquele, finalmente, que teve uma das horas mais felizes dessa época de amor de permanecer a sós, e de noite, junto àquela que uma vez disse com efusão: Amo-te!

Ah, felizes tempos da mocidade, como perpassais rápidos!

Fernando sentia-se também um pouco comovido naquele momento de suprema felicidade. Forcejou, no entanto, por se sossegar a si e a Rosa, exclamando com a mais terna inflexão:

- Meu querido anjo, não estejas inquieta, porque nada tens a recear. Senta-te aqui e conversemos.

Sentaram-se ambos no pequeno banco de madeira e, com as mãos enlaçadas, assim permaneceram durante alguns momentos em contemplativo êxtase.

A noite estava realmente bela. A limpidez do céu, o fulgor das nuríades de estrelas, o luar claro, refletindo-se na folhagem das árvores e na relva das campinas, davam àquela cena um aspeto fantástico e arrebatador.

Rosa, naquele momento, parecia mais sedutora do que nunca. Um raio da Lua, atravessando a custo a ramagem do castanheiro, batia-lhe de frente no rosto, deixando ver-lhe as faces afogueadas, o olhar meigo e não sei quê de fascinador, que enlouquecia.

Foi num desses momentos de muda contemplação que Fernando, arrebatado, louco, sem a consciência do que fazia, cingiu ao coração o corpo flexível da sua amante, cobrindo-lhe as faces de frenéticos beijos.

- Como és linda! - exclamou ele. - Para que te fez Deus tão formosa, anjo da minha vida?

Rosa, trémula de susto, desenvencilhou-se a custo dos braços de Fernando, e, com as lágrimas nos olhos, mas a voz firme e clara, aventurou as seguintes palavras:

- Fernandinho, amo-o muito, é verdade; e a prova mais clara desse amor é o ter acedido a passar algum tempo aqui a sós consigo.





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