A Rosa do Adro - Cap. 9: CAPÍTULO 9 Pág. 72 / 202

Trocou-me por um outro, a quem se entregou como uma escrava.

- E tens a certeza que ela te não ama?

- Se tenho, meu Deus!... Foi ela própria que mo declarou: disse-me que me queria como a um irmão, mas que nunca me amara como eu julguei.

- Ora vamos, homem; por agora não vale a pena desesperar, isto de mulheres é para onde lhes dá; pode ainda suceder o ela aborrecer esse outro e amar-te... Mas diz-me: quem é essa rapariga? Será ela merecedora da afeição que tão cegamente lhe tributaste? Será digna de ti?

- Oh, se é! Basta dizer-lhe que é a rapariga mais bela da aldeia: é a Rosa do Adro.

- A Rosa do Adro?! - exclamou o padre, dando um pulo na cadeira. - Estás bem certo de que ela não te ama?

- Já lhe disse, senhor, que lho ouvi da própria boca.

- Pois bem, António: o que tenho a dizer-te é que foi uma felicidade, uma providência até, o ela não te amar, e desde já te aconselho a que procures combater essa paixão que te mina a existência e que apagues para sempre do coração a imagem dessa rapariga.

- Mas não vejo que perigo houvesse nesse amor, se acaso ele existisse...

- Nada mais posso dizer-te do que nunca, nunca poderias tê-la por esposa, ainda que morrêsseis de paixão um pelo outro, porque seria eu o próprio a evitar esse casamento, se tal tentásseis, e se não pudesse, antes disso, fazer desaparecer o amor dos vossos corações.

- Mas que motivo tão poderoso haveria para um tal procedimento da sua parte, senhor?

- Sabê-lo-ás talvez um dia. Por enquanto basta só que te convenças de que Rosa nunca poderia ser tua esposa, e que esse amor entre vós, se existisse, seria uma desgraça para ambos.

- É incrível!... Que insondável mistério haverá em tudo isso?

- Nada mais posso acrescentar. Estima-a quanto quiseres, mas esquece-te dessa paixão, e, se um dia, por fatalidade, ela te vier a amar, repele esse sentimento com todas as forças da tua alma.





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