A Rosa do Adro - Cap. 10: CAPÍTULO 10 Pág. 87 / 202

O amor arrasta-nos muitas vezes à perdição pela leviandade com que quase sempre procedemos; calculo só agora o perigo a que me exponho... Apelo, porém, para o seu amor e para a bondade da sua alma. Jura guardar-me o respeito que me tem guardado até aqui e que não tentará abusar da fraqueza da mulher que o ama tanto?

- Olha, minha Rosa - respondeu Fernando - , vou falar-te com a franqueza que sempre conheceste em mim. O amor é um sentimento tão cegamente poderoso, que muitas vezes não podemos fugir aos seus efeitos nem enfrear a sangue-frio os seus impulsos e tentações. Eu, no entanto, farei todo o possível para fugir à sua fascinação; suceda, porém, o que suceder, eu já te jurei que serás a minha única esposa, e este juramento, que jamais trairei pôr-te-á a coberto de quaisquer eventualidades.

- Mas jura-me...

- Disse o que tinha a dizer-te. Nada mais acrescento.

- Meu Deus...

- Olha, Rosa! É melhor terminarmos com estes escrúpulos, que eu respeito: tu entras já no teu quarto, e eu vou para a minha casa; assim estarão sanados todos os receios. Adeus.

E Fernando fez menção de retirar-se. Rosa, porém, debulhada em lágrimas e receosa de que ele se retirasse agastado pelas suas exigências, lançou-lhe os braços em volta do pescoço e exclamou:

- Não se retire; venha. Entrego-me à sua bondade, e que a Providência vele por mim.

Entraram ambos no quarto de Rosa, naquele templo de virgindade e inocência que nem a sombra, sequer, de um homem havia até ali profanado.

Por uma estranha coincidência, a única luz que ali havia, e que estava num a pequena lâmpada que todas as noites ardia junto de um quadro com a imagem da Virgem Santa, apagou-se à entrada dos dois, ou por falta da matéria que a alimentava, ou por causa de alguma corrente de ar que se introduzisse ao abrir-se a porta, ficando assim aquele recinto envolto nas mais densas trevas.





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