O Ingénuo - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 39 / 91

- E como se chama o senhor, que assim fala tão alto?

- Oh! Oh! - tornou o Ingénuo. - Não leu então os meus certificados? É assim que tratam a gente? Chamo-me Hércules de Kerkabon; sou batizado, paro no Quadrante Azul, e me queixarei do senhor a Sua Majestade.

O funcionário concluiu, como o pessoal de Saumur, que o Ingénuo não ia muito bem da cabeça, e não lhe deu maior atenção. Naquele mesmo dia, o reverendo padre La Chaise, confessor de Luís XIV, recebera a carta de seu espião que acusava Kerkabon de simpatizar com os huguenotes e ser contrário à orientação dos jesuítas. O senhor de Louvois, por seu lado, recebera uma carta do interrogativo bailio, na qual o Ingénuo era apresentado como um valdevinos que queria incendiar conventos e raptar donzelas.

Este, depois de passear pelos jardins de Versalhes, onde se aborreceu, depois de haver jantado como um hurão e como bretão, deitara-se na doce esperança de ver ao Rei no dia seguinte, de conseguir a mão da senhorita de St. Yves, de obter ao menos uma companhia de cavalaria e fazer cessar a perseguição contra os huguenotes. Embalava-se nesses fagueiros pensamentos, quando a polícia lhe penetrou no quarto. Apoderaram-se primeiro do seu fuzil de dois tiros e do seu grande sabre. Fizeram um inventário do seu dinheiro de bolso, e levaram-no para o castelo que o rei Carlos V, filho de João II, mandou construir nas proximidades da rua de Santo Antônio, à porta das Tournelles. Qual não foi o espanto do Ingénuo, é coisa que deixo à vossa imaginação. Julgou, a princípio, que se tratava apenas de um sonho.





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