O Ingénuo - Cap. 15: Capítulo 15 Pág. 64 / 91

Uma frase largada a princípio com certa reserva, provocava outra mais forte, seguida de uma terceira mais expressiva. Não apenas a revogação da carta-de-prego lhe foi oferecida, mas recompensas, dinheiro, honrarias, posições. E, quanto mais ele prometia, mais aumentava o desejo de não ser recusado.

A St. Yves chorava, arquejante, meio tombada num sofá, mal acreditando no que via e no que ouvia. St. Pouange, por sua vez, lançou-se-lhe aos pés. Atrativos não lhe faltavam, e bem poderia não espantar um coração menos prevenido. Mas St. Yves adorava o seu amado e julgava um crime horrível traí-lo para o servir. St. Pouange redobrava os rogos e promessas. Afinal tresvariou a ponto de declarar que era aquele o único meio de tirar da prisão o homem pelo qual tomava ela tão violento e apaixonado interesse. A estranha entrevista prolongava-se indefinidamente. A devota da antecâmara, lendo o seu Pédagogue Chrétien, pensava: "Meu Deus! Que podem eles estar fazendo há duas horas? Nunca monsenhor de St. Pouange me deu tão longa audiência; com certeza ele recusou tudo a essa pobre moça, visto que até agora ela lhe está rogando".

Enfim a sua companheira saiu do gabinete, desvairada, sem poder falar, a refletir profundamente sobre o caráter dos grandes e dos semigrandes que tão levianamente sacrificam a liberdade dos homens e a honra das mulheres.

Não disse palavra durante todo o caminho. Chegada à casa da amiga, desabafou e contou-lhe tudo. A devota fez grandes sinais da cruz.





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