Teresa, queixava-se de cãibras; que lhe zuniam coisas nos ouvidos, que via faíscas no ar, e tinha muito calor na cabeça. D. Teresa dizia-lhe que se fosse deitar, que precisava de recolher-se. Marta pedia-lhe que a deixasse ir dormir ao pé dela, pedia - lho pela alma da sua mãe, pela vida do seu irmão.
A hóspede compreendia, compadecia-se, receava o ataque epitético, precedido sempre das faíscas e cãibras de que se queixava a noiva; mas não sabia como dirigir-se ao marido de marta a pedir-lhe que se fosse deitar sozinho. Nos seus numerosos romances não achara um episódio desta espécie. Interveio na crítica conjuntura o Simeão, dizendo à filha:
- São horas de ir à deita. O teu marido está a cair com sono.
Marta fixou o pai com os seus olhos esmeraldinos rutilantes de cólera, num arremesso de cabeça erguida, e com os lábios a crisparem. Era a nevrose epilética. Seguiram-se as convulsões, o espumar da boca, um paroxismo longo de vinte minutos. D. Teresa pediu que a ajudassem a levá-la para a sua cama, e disse com fidalga impertinência ao Simeão que a deixassem com ela, e não lhe falassem no marido. Simeão coçava-se com grande desgosto. O brasileiro contava ao barão que a sua sobrinha era atreita àqueles ataques; mas que o cirurgião lhe dissera que lhe tinham de passar em casando. O do rabaçal notou que o remédio então bom era, e seria bom começá-lo quanto antes. Disse mais chalaças a propósito e foi-se deitar. Feliciano ainda foi saber como estava a esposa, mas já não havia luz no quarto de D. Teresa. Recolheu-se à cama, e continuou mais uma noite no seu leito solitário, virginalmente.
D. Teresa sentia-se mal, num embaraço quase ridículo, naquele meio. Marta não a largava, parecia uma criança espavorida, agarrada ao vestido da mãe, assim que ouvia os passos do tio.