- Um homem, o caneta de braga, o chapeleiro, com uma carta - anunciou senhorinha - só a entrega em mão própria ao senhor abade.
Que entrasse.
O rei e o visconde meteram-se à alcova, simulando receios.
Era uma carta do abade de priscos, bispo eleito de Coimbra. Tinha a honra de enviar a el - rei cem peças, donativo que as senhoras botelhas, de braga, ofereciam de joelhos a S. M. F., e diziam que todos os seus haveres estavam às ordens de el-rei seu senhor.
E entregou dois grossos cartuchos, cintados por fitas cruzadas de seda escarlate. E o caneta muito pontual:
- Queria um recibinho, se lhe não custa, reverendo senhor abade.
- Venha daí que eu passo-lhe o recibo.
Os dois saíram da alcova. Os rolos estavam sobre a mesa. Eles tinham ouvido falar em recibo. O visconde nunes, esgazeando os olhos, foi apalpar o embrulho, e muito baixinho:
- Arame! Pesa que tem diabo! É ouro! Começa a pingadeira! Vês?
O outro arregalou os olhos e deitou a língua de fora quanto lhe foi possível. Nem parecia um rei!