Dava-se como descendente do bispo do algarve D. João camelo. Contava a origem do brasão da sua casa, concedido ao seu sexto avô Lopo rodrigues. Habituado a contar aos juízes de fora e corregedores da comarca o facto provado por incontestáveis pergaminhos, era convidado muito a miúdo desfrutadoramente à exposição heráldica do seu escudo, que ele fazia numa toada monótona de quem reza (*).
[(*) nota erudita. A história, aliás exata, que o fidalgo de Alvações contava, acha-se nos nobiliários, e está gravada no escudo desta família. Lopo rodrigues camelo foi moço da estribeira de el-rei D. Sebastião, e muito querido do seu real amo. Viajara muito e era primoroso em pontos de cortesia. Uma vez acompanhara o rei a Coimbra; e, na passagem de são marcos para Tentúgal, encontraram a ponte do mondego caída. O rei quis passar a vau, e o estribeiro observou-lhe que o passo ali era perigoso. D. Sebastião redarguiu: “então passai vós primeiro.” - vossa alteza me engana - volveu o cortesão - ditoso engano é esse.» - e, metendo-se à vala espapada de limos e lodo, submergiu-se a ponto de ficar só com a cabeça e um braço de fora. El-rei acudiu-lhe, tomando-o pela mão, e tirando-o com valente pulso para a margem. Lopo rodrigues, a fim de que os seus descendentes lessem este caso no mármore do seu brasão de armas, pediu a el-rei que lhe mandasse reformar o escudo em lembrança de tal sucesso. E assim lhe foi debuxado o escudo: em campo verde uma ribeira de prata ondeada. Desta ribeira emerge um braço vestido de azul, do qual pega outro vestido de brocado com letras de negro que dizem rei. Este braço real sai da banda direita do escudo, na esquerda está uma estrela de ouro de oito raios, e no canto direito de baixo uma flor-de-lis de ouro. Timbre o braço vestido de azul com a estrela nas dedos.