As lágrimas das pecadoras, sem exceção das contritas, são peste. Ricardina contou sua vida à brasileira. Quando não podia falar, soluçava. Era então que ela sentia o calor de outro coração, e ouvia as palavras "desgraçada menina!”. Não há aí maior nem mais rara consolação que mulher criminosa e sem família encontrar alma estranha que a console!
Recolheu-se, uma tarde, o capelão e disse-lhe:
- Sr.ª D. Ricardina, consegui a sua entrada no Recolhimento de S. Cristóvão.
- Não vou - respondeu a senhora.
- Não vai?!
- Não.
- Então que há de ser de si?
- O que Deus quiser. A minha irmã que me desampare... Eu não lhe pedi nada. Expulsaram-me... obedeci.
- Mas a senhora está sem amparo de alguém.
- Paciência. A morte é amparo... - disse Ricardina.
O capelão noticiou a Luís Pimentel a rebeldia da sua cunhada. Reuniu-se a família, tirante Eugénia, cuja tristeza e compaixão da irmã despraziam ao sogro. Deliberaram avisar o abade, menos por deferência que por medo. O padre Leonardo Botelho de Queirós respondeu que não conhecia a pessoa de quem lhe falavam; que tivera duas filhas; mas que ambas eram já mortas e esquecidas.
Os Pimenteis não replicaram. Investiram o seu capelão de autoridade para abrir mão do negócio do recolhimento e dizer à Sr.ª D. Ricardina que continuasse a dispor da sua vontade própria; que eles declinavam sobre ela a responsabilidade das consequências. Assim lho transmitiu fielmente o capelão, juntando da sua lavra um malogrado discurso sobre a contumácia do vício, e uma não menos gorada declamação profética das supervenientes desgraças da perdida senhora.
O profeta fez sorrir uma das testemunhas do seu zelo: era a viúva brasileira.
- A senhora ri-se? - exclamou o clérigo, pasmado do descoco.