Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 20: CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO

Página 127
Corria o ano de 1844, quando o filho de Bernardo Moniz se matriculou no 1º Jurídico.

Uma tarde pediu-lhe sua mãe que a levasse a passear com ele. Ao passarem na Sofia, D. Ricardina ia olhando atentamente para as portas e janelas do lado ocidental da rua. Deteve-se enlevada numa casa onde ela pernoitara dezasseis anos antes.

- Seria esta? - dizia ela entre si.

E contemplava uma janela que lhe parecia ter sido a de Bernardo, combinando reminiscências erradas talvez, ou exatas por casualidade.

- Que está a mãe a ver? - perguntou Alexandre.

- Nada, filho.

- Nada? Mas os seus olhos choram.

- É da impressão do vento.

E foi caminhando. Alexandre acreditou-a. Que tinham que ver as janelas daquela casa com as lágrimas da sua mãe? E aqui vem de molde avisar o leitor de que Alexandre da sua linhagem sabia o que a sua mãe lhe dissera com perdoável inexatidão: Que era filho de um provinciano já falecido quando ele nascera. que o seu pai se apelidava Pimentel. que a sua madrinha socorrera a indigência da mãe. Ricardina contaria sem pejo os seus desventurados amores a estranhos; mas ao filho não pudera. Há o que quer que seja sacratíssimo no vínculo da alma maternal à pureza de ouvidos e coração de filho. A inocência da criança incute mais pudor e medo no seio da mãe que o escárnio insultador da sociedade. A mulher delinquente mostra a descoberto em pleno mundo os estigmas do rosto, e forceja por escondê-los dos olhos dos seus filhos. Além

de que, Ricardina sabia que inexorável vilipêndio denegria a memória de Bernardo Moniz. O inocente menino teria de tragar iniquíssimos afrontamentos se fosse conhecido como filho do assassino, que devia à fuga o ter-se desviado do caminho da forca.

Estas seriam as duas causas que lhe represaram as expansões, quando ela ia ceder ao ímpeto de contar sua vida ao filho, para, a toda a hora, lhe poder falar no pai.

<< Página Anterior

pág. 127 (Capítulo 20)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Retrato de Ricardina
Páginas: 178
Página atual: 127

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I - O ABADE DE ESPINHO 1
CAPÍTULO II - UM AMIGO! 9
CAPÍTULO III – REAÇÕES 12
CAPÍTULO IV - BERNARDO MONIZ 19
CAPÍTULO V - MÃE E FILHA 25
CAPÍTULO VI – AGONIAS 32
CAPÍTULO VII - O QUE ELA PEDIA A JESUS 39
CAPÍTULO VIII - O BEM-FAZER DA MORTE 45
CAPÍTULO IX - ATÉ QUE ENFIM! 52
CAPÍTULO X - A SORTE 59
CAPÍTULO XI - MEMÓRIAS DOLOROSAS 66
CAPÍTULO XII – ESPERANÇAS 75
CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO 80
CAPÍTULO XIV - PLANOS DO ABADE 88
CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE 94
CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO! 104
CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE 112
CAPÍTULO XVIII - O QUE FEZ A IGNORÂNCIA DO ESTILO FIGURADO 118
CAPÍTULO XIX - TÁBUA DE SALVAÇÃO 122
CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO 125
CAPÍTULO XXI - VANTAGENS DE CINCO PRÉMIOS 132
CAPÍTULO XXII - OS “DEZ-RÉIS” DA VISCONDESSA 136
CAPÍTULO XXIII - A RODA DA FORTUNA 141
CAPÍTULO XXIV - A NETA DO ABADE DE ESPINHO 147
CAPÍTULO XXV - O CORAÇÃO NÃO SE REGULA PELAS LEIS VISIGÓTICAS 156
CAPÍTULO XXVI - O REPATRIADO 161
CAPÍTULO XXVII - O RETRATO DE RICARDINA 166
CAPÍTULO XXVIII - ENFIM... 171
CAPÍTULO XXVIII – CONCLUSÃO 177