.. Não posso duvidar.
E ajoelhou, pendida dos braços da viscondessa, apertando entre as mãos os manuscritos de Bernardo. Então, pondo os olhos no céu, através das janelas, ergueu a Deus uma oração de soluços, debulhando-se em lágrimas, com a respiração arquejante, sem vociferar mais que uns sons guturais, entrecortados por convulsões ansiosíssimas.
Alexandre ajoelhou a lado da sua mãe, amparando-a, e disse-lhe:
- Quer ir ver o meu pai?
- Sim! - desafogou ela um gemido que parecia exprimir aquele monossílabo.
- Quando?... Vamos já?
- Já, meu filho.
- Vou mandar sair a caleche.
Alexandre desceu ao escritório, e voltou com o seu pai pelo braço. Bernardo Moniz, a cada passo, tremia e parava, pedindo ao filho que o deixasse cobrar ânimo.
- Então? A sua força? As suas promessas, meu pai?
- Que promessas, filho?... Quem é mais forte do que eu?... A morte não me ameaça, senão depois que a temo... Vamos.
D. Ricardina lançava um xale sobre os ombros, quando o filho assomou sob o reposteiro, e disse:
- Minha mãe!
- Estou pronta, filho. Vamos, Norberto?
- É melhor que o Sr. Bernardo venha cá - disse o sargento. - Olhe... - e apontou para a porta. - Olhe, fidalga, ele aí está!
Ricardina olhou. Não me afouto a descrever o lance. O espetáculo era dois seios que se apertavam com um transporte só comparável ao transe da agonia com que vinte e quatro anos antes se tinham afastado. À volta deles, Matilde, Alexandre e Norberto, com as mãos postas, pareciam pedir à Divina Providência que os defendesse da demência do prazer superior às forças da alma.