Acobardou-se o agredido e saiu para a sua abadia, no propósito de planear mais estrondosa vingança.
Neste tempo, a parte liberal da academia reunia-se nos seus clandestinos esconderijos sob o nome de Clube Republicano Escolástico, disposta a resistir à perfídia do regente, já demonstrada nos actos iniciais de governo absoluto. Era notório que se preparava uma deputação do corpo catedrático e do cabido de Coimbra, enviada a felicitar D. Miguel. Constava que os lentes eleitos seriam os dois mais entranhados inimigos dos estudantes que se tinham manifestado contra o insurgente marquês de Chaves. Grassou outrossim o boato de que os dois lentes adrede escolhidos, Mateus de Sousa Coutinho e Jerónimo Joaquim de Figueiredo, coligiam uma lista dos académicos suspeitos, a fim de os fazer punir e riscar da Universidade, delatando-os ao infante.
Expedidas as notícias aterradoras numa sessão de duzentos académicos nomeados maçonicamente os “Divódis”, surdiu uníssono o grito de morte aos dois lentes. Bernardo Moniz, à hora da conjuração funesta, pernoitava emboscado entre as árvores já floridas, onde Ricardina lhe desprendia o ânimo da paixão política. De nenhum peso lhe eram no espírito embevecido em tanto amor as convulsões da república. Quando os irmãos o chamavam às velhas práticas de despotismo e liberdade, furtava-se às enojosas questões e dizia: - Meus amigos, a política é boa distração para quem não ama. A mim que me importam liberdades? O que eu quero é amar livremente. Achei a felicidade. Acabaram-se as minhas pendências com o mundo.
E assaz o provava, refugiando-se noturnamente para os silêncios do seu bosque apenas quebrados pelo dulcíssimo dialogar de beijos mais que de palavras. Já ele tinha obtido por intervenção do seu contemporâneo Domingos Joaquim dos Reis, filho do poderoso capitão-mor de Sintra, e afilhado da infanta D.