Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 11: CAPÍTULO XI - MEMÓRIAS DOLOROSAS

Página 67
Abraçaram-se taciturnos, desluzidos do menor lume de entusiasmo, pedindo tacitamente coragem uns aos outros. Neste lance; sobreveio outro sorteado, Bento Adjuto Soares coiceiro, de 24 anos possante, destemeroso, sedento de perigos, e bom para zombar deles na aresta da voragem. Entrou representando a passagem de Orestes, famoso baile trágico, que ele tinha visto representar no Teatro de S. João em Agosto do ano anterior. Figurou-se ele de Pílades apresentando a urna com as cinzas de Orestes. A urna era o gorro; e as cinzas eram castanhas piladas que ele depunha aos pés de Egisto que vinha a ser Bernardo. Depois, voltando-se para o filho do capitão-mor de Sintra, exclamou:

- Faze tu de Clitemnestra, ó Reis, que és bonito!

O jovem olhava triste para as truanices de coiceiro. Os outros pareciam invejar-lhe o grande ânimo ou a carnívora crueldade.

Quase agastado da indiferença do auditório, Bento Adjuto compôs sisudamente o aspeto e disse:

- Temos homens ou meninas? Podemos contar com treze irmãos juramentados, ou faz-se votação nova?

- Quem te disse que a nossa seriedade é medo? - respondeu com hombridade Bernardo Moniz. - Se não rimos das tuas pilhérias, a culpa é tua, coiceiro. Dá-nos cenas mais salgadas, se podes.

- Folgo de altivez! Sim, senhor! - volveu coiceiro. - Parecias-me agora grego ou romano pelo tom e pela postura!

- Português, somente - replicou o médico, satisfeito do aprumo do irmão.

Seguiu-se uma prática ordenada a discutir a matéria que na reunião noturna havia de votar-se. Era simplesmente o local da emboscada; que o restante fora decidido na véspera. À proporção que se afogueava o assunto, ardentemente debatido por coiceiro, os três consortes ganharam o entusiasmo próprio dos anos, e saíram do quebranto em que os atonizara menos o medo das leis que a repugnância de matar sem o incentivo do extremo ódio.

<< Página Anterior

pág. 67 (Capítulo 11)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Retrato de Ricardina
Páginas: 178
Página atual: 67

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I - O ABADE DE ESPINHO 1
CAPÍTULO II - UM AMIGO! 9
CAPÍTULO III – REAÇÕES 12
CAPÍTULO IV - BERNARDO MONIZ 19
CAPÍTULO V - MÃE E FILHA 25
CAPÍTULO VI – AGONIAS 32
CAPÍTULO VII - O QUE ELA PEDIA A JESUS 39
CAPÍTULO VIII - O BEM-FAZER DA MORTE 45
CAPÍTULO IX - ATÉ QUE ENFIM! 52
CAPÍTULO X - A SORTE 59
CAPÍTULO XI - MEMÓRIAS DOLOROSAS 66
CAPÍTULO XII – ESPERANÇAS 75
CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO 80
CAPÍTULO XIV - PLANOS DO ABADE 88
CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE 94
CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO! 104
CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE 112
CAPÍTULO XVIII - O QUE FEZ A IGNORÂNCIA DO ESTILO FIGURADO 118
CAPÍTULO XIX - TÁBUA DE SALVAÇÃO 122
CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO 125
CAPÍTULO XXI - VANTAGENS DE CINCO PRÉMIOS 132
CAPÍTULO XXII - OS “DEZ-RÉIS” DA VISCONDESSA 136
CAPÍTULO XXIII - A RODA DA FORTUNA 141
CAPÍTULO XXIV - A NETA DO ABADE DE ESPINHO 147
CAPÍTULO XXV - O CORAÇÃO NÃO SE REGULA PELAS LEIS VISIGÓTICAS 156
CAPÍTULO XXVI - O REPATRIADO 161
CAPÍTULO XXVII - O RETRATO DE RICARDINA 166
CAPÍTULO XXVIII - ENFIM... 171
CAPÍTULO XXVIII – CONCLUSÃO 177