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Capítulo 14: CAPÍTULO XIV - PLANOS DO ABADE

Página 89
Quando entrou à presença do amo, cresceu para ele o abade, exclamando:

- Estava cá morto por ti, homem!... Que diabo de demora!

- Aqui estou, meu amo.

- Esperava-te já de manhã.

- Encravou-se o macho, e tive de esperar três horas que aparecesse ferrador. Aqui está a resposta.

E entregou-lhe uma carta.

- Que ouviste por lá dizer? - disse o abade, lendo rapidamente.

- Dos lentes? Mataram-nos não sei quantos estudantes.

- E sabes que o Bernardo foi dos matadores?

- Não ouvi nada disso, fidalgo.

- Pois foi. Já está em Viseu ordem de prisão para todos. Cheguei de lá agora. Amanhã ou depois cerca-se a casa, e, se eles lá estão, como já tive notícia, vão todos malhar à forca, que nem Deus nem o Diabo lhes pode valer.

- E a fidalga? - atalhou Norberto, apiedando o rosto.

- Que vens tu cá falar-me nessa mulher perdida?... Se eu a lá encontrasse..., essa quem na enforcava era eu no galho de um castanheiro. Eu não tenho filha nenhuma, percebes?

- Sim, senhor.

- Então nem mais palavra a tal respeito! - ordenou rispidamente o abade.

- Não que vossa senhoria tem razão - remediou Norberto. - Eu disse isto; mas não é por querer que vossa senhoria perdoe à menina nem a ele. Quem primeiro lhe atira, se o vir, é cá o Calvo. Lobrigue-o eu que à forca não vai ele. Qual forca? Isto de homens ricos não vão à forca. O melhor é dar-lhe cá o passaporte para o outro mundo, e pô-lo logo a responder de facto e direito, como o outro que diz.

Jubilou o abade, riram-se-lhe olhos e dentes, e desbordou-lhe a ternura do seio nesta doçura de falas quase segredadas:

- Olha cá, Norberto! O meu homem hás de ser tu sempre! Não me fio do Frazão nem do Torto, que são bravos, mas muito brutos. Vamos arranjar o plano. O que tu disseste é o que eu quero.

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pág. 89 (Capítulo 14)

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Capa do livro O Retrato de Ricardina
Páginas: 178
Página atual: 89

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I - O ABADE DE ESPINHO 1
CAPÍTULO II - UM AMIGO! 9
CAPÍTULO III – REAÇÕES 12
CAPÍTULO IV - BERNARDO MONIZ 19
CAPÍTULO V - MÃE E FILHA 25
CAPÍTULO VI – AGONIAS 32
CAPÍTULO VII - O QUE ELA PEDIA A JESUS 39
CAPÍTULO VIII - O BEM-FAZER DA MORTE 45
CAPÍTULO IX - ATÉ QUE ENFIM! 52
CAPÍTULO X - A SORTE 59
CAPÍTULO XI - MEMÓRIAS DOLOROSAS 66
CAPÍTULO XII – ESPERANÇAS 75
CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO 80
CAPÍTULO XIV - PLANOS DO ABADE 88
CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE 94
CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO! 104
CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE 112
CAPÍTULO XVIII - O QUE FEZ A IGNORÂNCIA DO ESTILO FIGURADO 118
CAPÍTULO XIX - TÁBUA DE SALVAÇÃO 122
CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO 125
CAPÍTULO XXI - VANTAGENS DE CINCO PRÉMIOS 132
CAPÍTULO XXII - OS “DEZ-RÉIS” DA VISCONDESSA 136
CAPÍTULO XXIII - A RODA DA FORTUNA 141
CAPÍTULO XXIV - A NETA DO ABADE DE ESPINHO 147
CAPÍTULO XXV - O CORAÇÃO NÃO SE REGULA PELAS LEIS VISIGÓTICAS 156
CAPÍTULO XXVI - O REPATRIADO 161
CAPÍTULO XXVII - O RETRATO DE RICARDINA 166
CAPÍTULO XXVIII - ENFIM... 171
CAPÍTULO XXVIII – CONCLUSÃO 177