A Origem das Espécies - Cap. 5: CAPÍTULO IV
SELECÇÃO NATURAL Pág. 139 / 524

de estrutura, constituição e hábitos lhes seja vantajosa, penso que seria um facto muitíssimo extraordinário se jamais ocorresse qualquer variação útil ao próprio bem-estar de cada ser, tal como ocorreram tantas variações úteis ao homem. Mas, se de facto ocorrem variações úteis a qualquer ser orgânico, seguramente que a probabilidade de serem preservados na luta pela vida os indivíduos que tenham estes caracteres será maior; e, segundo o princípio forte da hereditariedade, estes tenderão a gerar uma prole com caracteres semelhantes. A este princípio da preservação, chamei, por uma questão de brevidade, «selecção natural». A selecção natural, com base no princípio da hereditariedade de qualidades em idades correspondentes, pode modificar o ovo, a semente, ou a cria, tão facilmente como modifica o adulto. Entre muitos animais, a selecção sexual dará o seu auxílio à selecção comum, assegurando a prole mais numerosa aos machos mais vigorosos e mais bem adaptados. A selecção sexual proporcionará também caracteres que são exclusivamente úteis aos machos nas suas lutas com outros machos.

A questão de a selecção natural se comportar realmente ou não desta maneira na natureza, modificando e adaptando as diversas formas de vida a uma diversidade de condições e de espaços, tem de ser decidida pelo teor geral e ponderação dos indícios apresentados nos capítulos seguintes. Mas já percebemos como isto implica a extinção; e a geologia mostra claramente a que ponto a extinção influiu na história do mundo. A selecção natural, além disso, leva à divergência de carácter; pois a quantidade sustentável de seres vivos que pode ocupar a mesma área é tanto maior quanto estes seres divergem em estrutura, hábitos e constituição, o que constatamos ao observar habitantes de qualquer área reduzida ou produções naturalizadas.





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