A Origem das Espécies - Cap. 5: CAPÍTULO IV
SELECÇÃO NATURAL Pág. 140 / 524

Portanto, durante a modificação dos descendentes de qualquer espécie e durante a luta incessante de todas as espécies para aumentar numericamente, quanto mais diversificados são estes descendentes, mais hipóteses terão de triunfar na batalha da vida. Assim, as pequenas diferenças que distinguem as variedades da mesma espécie tenderão a aumentar a um ritmo estável, até igualarem as diferenças maiores entre espécies do mesmo género, ou mesmo de géneros diferentes.

Vimos que as espécies que mais variam são as espécies comuns, amplamente disseminadas, amplamente distribuídas e que pertencem aos géneros mais vastos; e estas tenderão a transmitir à sua prole modificada aquela superioridade que hoje as torna dominantes nos seus próprios territórios. A selecção natural, como ainda agora se observou, produz divergência de carácter e muita extinção de formas de vida intermédias e menos aperfeiçoadas. Julgo que com base nestes princípios se pode explicar a natureza das afinidades de todos os seres orgânicos. É um facto deveras maravilhoso - cuja maravilha tendemos a ignorar devido à familiaridade - que todos os animais e todas as plantas em todas as épocas e lugares estejam interligados pela subordinação de grupos a grupos, como observamos em toda a parte - nomeadamente, variedades da mesma espécie com maior grau de proximidade, espécies do mesmo género cujas relações de parentesco são menos próximas e mais desiguais, formando secções e subgéneros, espécies de géneros distintos muito menos intimamente próximas e géneros em diferentes graus de proximidade, formando subfamílias, famílias, ordens, subclasses e classes. Os diversos grupos subordinados dentro de qualquer classe não podem ser classificados num único compartimento, mas parecem antes aglomerar-se em torno de alguns pontos e estes em torno de outros pontos, e assim sucessivamente, em círculos quase intermináveis.





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