A Origem das Espécies - Cap. 6: CAPÍTULO V
LEIS DA VARIAÇÃO Pág. 162 / 524

Parece constituir uma regra, como observou Is. Geoffroy St. Hilaire, nas variedades e espécies, que, quando uma parte ou órgão se repete muitas vezes na estrutura do mesmo indivíduo (como as vértebras nas serpentes, e os estames nas flores poliândricas), o número é variável; ao passo que é constante quando, mesma parte ou órgão ocorre em menor número. O mesmo autor e alguns botânicos observaram também que muitas partes são também susceptíveis à variação de estrutura, na medida em que esta «repetição vegetativa», para usar a expressão do Professor Owen, é aparentemente indício de baixa organização; o comentário anterior parece ligar-se à opinião bastante geral dos naturalistas de que os seres situados mais abaixo na escala da natureza são mais variáveis do que os que estão situados mais acima. Presumo que a inferioridade neste caso significa que as diversas partes da organização foram apenas ligeiramente especializa das para funções particulares; e desde que a mesma parte tenha de realizar trabalho diversificado, podemos talvez ver porque permanece variável, isto é, porque a selecção natural preservaria ou rejeitaria cada pequeno desvio menos cuidadosamente do que quando a parte tem de servir para um propósito específico apenas. Da mesma maneira que uma faca para cortar todo o género de coisas pode ter quase qualquer forma, enquanto uma ferramenta para um fim particular tem de ter uma forma particular. Nunca se deve esquecer que a selecção natural pode agir sobre cada parte de cada ser, unicamente para sua vantagem e através dela.

Alguns autores afirmaram, e creio ser verdade, que as partes rudimentares tendem a variar bastante. Teremos de regressar ao tema geral dos órgãos rudimentares e atrofiados; e acrescentarei aqui apenas que a sua variabilidade parece dever-se à sua inutilidade e, portanto, ao facto de a selecção natural não ter como impedir os desvios na sua estrutura.





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