A Origem das Espécies - Cap. 6: CAPÍTULO V
LEIS DA VARIAÇÃO Pág. 175 / 524

Mas os caracteres adquiridos assim teriam provavelmente uma natureza pouco importante, pois a presença de todos os caracteres importantes será regi da pela selecção natural, em harmonia com os diversos hábitos da espécie, e não será deixada à acção mútua das condições de vida e de uma constituição similar herdada. Seria ainda de esperar que as espécies do mesmo género exibissem ocasionalmente reversões a caracteres ancestrais perdidos. Como, todavia, nunca conhecemos o carácter exacto do ancestral comum de um grupo, não poderíamos distinguir entre estes dois casos: se, por exemplo, não soubéssemos que o pombo comum não tinha pés pluma dos nem penacho, não poderíamos saber se estes caracteres nas nossas linhagens domésticas eram reversões ou apenas variações análogas; mas, a partir do número de manchas, as quais estão correlacionadas com o matiz azul e cujo aparecimento simultâneo por simples variação não parece provável, poderíamos inferir que a cor azul é um caso de reversão. Em especial, poderíamos ter feito esta inferência a partir do aparecimento tão frequente da cor azul e das manchas ao cruzar linhagens distintas e de coloração desigual. Assim, embora em estado de natureza a distinção entre casos de reversão a um carácter antigo e casos de variações novas, embora análogas, normalmente permaneça duvidosa, devíamos, segundo a minha teoria, descobrir por vezes na prole variante de uma espécie a aquisição de caracteres (por reversão ou variação análoga) já ocorrentes noutros membros do mesmo grupo. E isto acontece indubitavelmente em estado de natureza.

Uma parte considerável da dificuldade de reconhecer uma espécie variável nas nossas obras sistemáticas deve-se a algumas variedades imitarem, por assim dizer, outras espécies do mesmo género.





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