A Origem das Espécies - Cap. 7: CAPÍTULO VI
DIFICULDADES ENFRENTADAS PELA TEORIA Pág. 191 / 524

É o mesmo princípio que, segundo creio, explica que as espécies comuns em cada região, como se mostrou no Capítulo 2, apresentem em média maior número de variedades bem marcadas do que as espécies mais raras. Posso ilustrar o que pretendo dizer supondo que se mantém três variedades de ovelhas, uma adaptada a uma extensa região montanhosa; a segunda a um terreno comparativamente estreito e acidentado; e a terceira a uma planície ampla no sopé; e que os habitantes procuram todos com igual perseverança e aptidão aperfeiçoar as suas castas por selecção; as hipóteses neste caso serão fortemente favoráveis a que os grandes proprietários nas montanhas ou nas planícies aperfeiçoem as suas linhagens mais rapidamente do que os pequenos proprietários no terreno acidentado, estreito e intermédio; consequentemente, a linhagem aperfeiçoada da montanha ou da planície em breve ocupará o lugar da linhagem menos aperfeiçoada na encosta; assim, as duas linhagens, que originalmente existiam em maior número, entrarão em íntimo contacto entre si, sem a interposição da suplantada variedade intermédia da encosta.

Resumindo, creio que as espécies se tornam objectos razoavelmente bem definidos e que não apresentam em algum período um caos inextricável de elos intermédios e variantes: em primeiro lugar, porque as novas variedades se formam muito lentamente, pois a variação é um processo muito lento, e a selecção natural nada pode fazer antes que ocorram variações favoráveis, e antes que um espaço na organização natural da região possa ser mais bem preenchido por uma modificação de um ou mais habitantes. E tais novos espaços dependerão de mudanças climáticas lentas, ou da imigração ocasional de novos habitantes, e, provavelmente, num grau ainda mais importante, da lenta modificação de alguns dos antigos habitantes, em que as novas formas assim produzidas e as antigas actuam e reagem reciprocamente.





Os capítulos deste livro