A Origem das Espécies - Cap. 12: CAPÍTULO XI
DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA Pág. 409 / 524

que, no que se refere à ocorrência de espécies idênticas em pontos tão imensamente afastados como as Kerguelen, a Nova Zelândia e a Fuegia, creio que no fim do período glacial, os icebergues, como sugeriu Lyell, estiveram em grande medida envolvidos na sua dispersão. Mas a existência de diversas espécies muito distintas, pertencentes a géneros exclusivamente confinados ao sul, nestes e noutros pontos distantes do hemisfério sul, é, segundo a minha teoria da descendência com modificação, um exemplo de dificuldade muito mais extraordinário. Pois algumas destas espécies são tão distintas que não podemos supor que tiveram tempo desde o início do período glacial para migrar e, subsequentemente, sofrerem o grau necessário de modificação. Os factos parecem-me indicar que espécies peculiares e muito distintas migraram em linhas radiais a partir de um centro comum; e inclino-me a procurar no hemisfério sul, como no norte, um período anterior mais quente, antes do início do período glacial, quando as terras antárcticas, hoje cobertas de gelo, suportavam uma flora muito peculiar e isolada. Suspeito que antes de esta flora ter sido exterminada pela época glacial, algumas formas se dispersaram amplamente para vários pontos do hemisfério, por meios de transporte ocasionais, auxiliadas pela existência de ilhas hoje submersas, que serviam de pontos de paragem, e talvez no início do período glacial, por icebergues. Creio que por estes meios as costas meridionais da América, Austrália e Nova Zelândia ficaram ligeiramente matizadas pelas mesmas formas peculiares de vida vegetal.

Sir C. Lyell, numa passagem impressionante, especulou, numa linguagem quase idêntica à minha, acerca dos efeitos das grandes alterações climáticas na distribuição geográfica.





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