A Origem das Espécies - Cap. 14: CAPÍTULO XIII
AFINIDADES MÚTUAS DOS SERES ORGÂNICOS. MORFOLOGIA. EMBRIOLOGIA. ÓRGÂOS RUDIMENTARES. Pág. 461 / 524

Como se crê que os pontos de afinidade entre a viscacha e os marsupiais são reais e não meramente adaptativos, devem-se, segundo a minha teoria, à hereditariedade comum. Portanto, temos de supor ou que todos os roedores, incluindo a viscacha, divergiram a partir de um marsupial muito antigo, que terá tido um carácter até certo ponto intermédio relativamente a todos os marsupiais existentes; ou que os roedores e os marsupiais divergiram a partir de um progenitor comum, e que ambos os grupos têm desde então sofrido muita modificação em direcções divergentes. Com base numa ou noutra perspectiva, podemos supor que a viscacha reteve, por hereditariedade, mais do carácter do seu antigo progenitor do que os outros roedores; e portanto não será especialmente aparentada com qualquer marsupial existente, mas indirectamente com todos ou quase todos os marsupiais, por ter parcialmente retido o carácter do seu progenitor comum ou de um membro primitivo do grupo. Por outro lado, de todos os marsupiais, como observou o Sr. Waterhouse, o fascólomo assemelha-se mais intimamente, não a uma qualquer espécie, mas à ordem geral dos roedores. Neste caso, todavia, pode-se suspeitar fortemente de que a semelhança é apenas analógica, devido ao fascólomo se ter adaptado a hábitos semelhantes aos de um roedor. O velho De Candolle fez observações aproximadamente similares acerca da natureza geral das afinidades de ordens distintas de plantas.

Segundo o princípio da multiplicação e gradual divergência em carácter das espécies que descendem de uma antecessora comum, juntamente com a sua conservação, por hereditariedade, de alguns caracteres em comum, podemos compreender as afinidades excessivamente complexas e irradiantes pelas quais todos os membros da mesma família ou um grupo superior estão interligados.





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