A Origem das Espécies - Cap. 14: CAPÍTULO XIII
AFINIDADES MÚTUAS DOS SERES ORGÂNICOS. MORFOLOGIA. EMBRIOLOGIA. ÓRGÂOS RUDIMENTARES. Pág. 460 / 524

o princípio de cada grupo ter geralmente divergido muito em carácter durante o longo processo de modificação, as formas de vida mais antigas apresentam frequentemente caracteres ligeiramente intermédios a grupos existentes. Algumas formas antecessoras antigas e intermédias que tenham ocasionalmente deixado até aos dias de hoje descendentes pouco modificados, darão os nossos chamados grupos «osculantes» ou «aberrantes». Quanto mais aberrante qualquer forma é, maior terá de ser o número de formas conectantes que, segundo a minha teoria, foram exterminadas e se perderam completamente. Temos alguns indícios de as formas aberrantes terem sofrido gravemente a extinção, pois são em geral representadas por muitíssimo poucas espécies; e as espécies que ocorrem são geralmente muito distintas entre si, o que mais uma vez sugere a extinção. Os géneros Ornithorhynchus e Lepidosirene, por exemplo, não teriam sido menos aberrantes se cada um fosse representado por uma dúzia de espécies em vez de por uma apenas; mas tal abundância de espécies, como constato após alguma investigação, não cabe comummente aos géneros aberrantes. Penso que só podemos explicar este facto encarando as formas aberrantes como grupos em declínio conquistados por adversários mais bem-sucedidos, com alguns membros preservados por alguma coincidência invulgar de circunstâncias favoráveis.

O Sr. Waterhouse observou que, quando um membro pertencente a um grupo de animais exibe uma afinidade com um grupo completamente distinto, esta afinidade na maioria dos casos é geral e não especial: assim, segundo o Sr. Waterhouse, de todos os roedores, a viscacha é a mais intimamente próxima dos marsupiais; mas, nos aspectos em que se aproxima desta ordem, as suas relações são gerais e não com qualquer espécie de marsupial mais do que a outra.





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