A Origem das Espécies - Cap. 15: CAPÍTULO XIV
RECAPITULAÇÃO E CONCLUSÃO Pág. 492 / 524

grupos fragmentados e em declínio de seres orgânicos; mas observamos tantas gradações estranhas na natureza, como proclama o cânone «Natura non facit saltum», que devemos ser extremamente cuidadosos ao afirmar que qualquer órgão ou instinto, ou qualquer ser inteiro, não poderiam ter chegado ao seu estado presente através de muitas etapas graduais. Tem de se admitir que há casos de especial dificuldade na teoria da selecção natural; e um dos mais curiosos é a existência de duas ou três castas definidas de operárias ou fêmeas estéreis na mesma comunidade de formigas; mas procurei mostrar como se pode dominar esta dificuldade.

No que se refere à quase universal esterilidade das espécies quando cruzadas pela primeira vez, a qual forma um contraste tão notável com a quase universal fertilidade das variedades quando cruzadas, tenho de remeter o leitor à recapitulação dos factos apresentados no final do Capítulo VIII, que me parecem mostrar conclusivamente que esta esterilidade é tanto uma dotação especial como o é a incapacidade de duas árvores para serem mutuamente enxertadas; mas que depende de diferenças constitutivas nos sistemas reprodutivos das espécies entrecruzadas. Vemos a verdade desta conclusão na vasta diferença de resultado, quando as mesmas duas espécies são reciprocamente cruzadas; isto é, quando uma espécie é primeiro usada como pai e então como mãe.

A fertilidade das variedades quando entrecruzadas e da sua prole mista não pode ser considerada universal; tão-pouco a sua muito geral fertilidade é surpreendente quando relembramos a improbabilidade de uma ou outra das suas constituições ou sistemas reprodutivos terem sofrido modificações profundas. Além disso, a maior parte das variedades com as quais se fez experiências foram produzidas sob domesticação; e como a domesticação aparentemente tende a eliminar a esterilidade, não devemos esperar também que produza esterilidade.





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