Apocalipse - Cap. 17: Capítulo 17 Pág. 136 / 180

E lá vai ela andando, andando sempre, fazendo algo que valha a pena, acumulando em pilhas cada vez mais altas as formas malignas da nossa civilização mas sem conseguir evitar um segundo, que seja, ficar envolta pelas fluidas e brilhantes dobras do novo dragão verde. Todas as nossas actuais formas de vida são malignas. Porém, com uma persistência que seria angelical se não fosse diabólica, a mulher insiste no melhor da vida, embora entenda que esse melhor é o das nossas formas malignas de vida, incapaz de perceber que a melhor de tais formas é a pior de todas.

E assim, trágica e torturada por todas as pardacentas cobras da vergonha e da dor modernas, vai lutando, combatendo pelo «melhor» que é, infelizmente, o melhor do que é mau. Hoje, todas as mulheres têm dentro de si um vasto lado de mulher-polícia. Andrómeda foi acorrentada nua a uma rocha, e o dragão do velho modelo enraivecia-se contra ela. A nossa pobre e moderna Andrómeda vê-se, porém, forçada a patrulhar as ruas mais ou menos vestida com uma farda de mulher-polícia, com uma espécie de bandeirola ou uma espécie de moca - ou não será aquilo a que se chama bastão? - encostada à camisa. E quem poderá salvá-la desta situação? Por mais vaporoso, branco ou virginal que o seu trajo seja, por baixo dele poderemos ver sempre as rugas ásperas da moderna mulher-polícia que faz o que pode, o melhor que pode.





Os capítulos deste livro