Além disto sabemos que, no século v, Anaximandro concebia o Ilimitado, a substância infinita, ladeado pelos seus dois «elementos» na primeira das primordiais criações, o quente e o frio, o seco e o húmido, ou o fogo e a treva, os grandes «pares». Estes «três» estão na origem de todas as coisas. É uma ideia que existe por detrás da mais antiga divisão em três do cosmo vivo, antes de ter dado origem à ideia de Deus.
Abra-se um parêntesis para fazer notar que o mundo era, na mais remota antiguidade, totalmente religioso mas sem deus. Enquanto os homens viveram numa estreita união física como um bando de pássaros a voar, numa estreita unidade física, numa velha união tribal onde o conceito de indivíduo não ressaltava ainda, a tribo, por assim dizer, vivia carne com carne com o cosmo, em contacto nu com o cosmo, todo o cosmo estava vivo e em contacto com a carne do homem, não dava lugar à introdução da ideia de deus. Só quando o indivíduo começou a sentir-se separado, só quando cedeu à consciência de si próprio e, portanto, da diferenciação (mitologicamente, só quando comeu da Árvore do Conhecimento e não da Árvore da Vida, e a si próprio se conheceu isolado e diferente), é que o conceito de Deus surgiu a interpor-se entre o homem e o cosmo.