— Como? O valor de uma causa é alterado pelo fato alguém ter se sacrificado por ela? — Um erro que se torna honroso é simplesmente um erro que possui um encanto sedutor: julgais, senhores teólogos, que vos daremos a chance de serdes martirizados por vossas mentiras? — Melhor se refuta uma causa colocando-a, respeitosamente, no gelo — esse também é o melhor meio para refutar os teólogos... Foi precisamente esta a estupidez histórico-mundial de todos os perseguidores: deram uma aparência honrosa à causa a que se opuseram — deram-lhe de presente a fascinação do martírio... Mulheres ainda se ajoelham ante um erro porque lhes disseram que um indivíduo morreu na cruz por ele. A cruz, então, é um argumento? — Mas sobre todas essas coisas um, e somente um, disse aquilo de que há milhares de anos se tinha necessidade — Zaratustra:
Traçaram sinais de sangue pelo caminho que percorreram, e sua loucura ensinava que a verdade se prova através do sangue.
Mas o sangue é, de todas, a pior testemunha da verdade; sangue envenena até a doutrina mais pura e a converte em insânia e ódio do coração.
E quando alguém atravessa o fogo por sua doutrina — que isso prova? Mais vale, em verdade, que do nosso próprio incêndio venha a nossa doutrina!