Eram cigarros muito bons, bem feitos e firmes, de papel extraordinariamente sedoso. O'Brien tornou a olhar o relógio-pulseira.
- É melhor voltares à cozinha, Martin - disse ele. - Vou ligar daqui a um quarto de hora. Examina bem a cara destes camaradas antes de ires. Hás-de revê-los. Eu talvez não.
Exatamente como fizera à porta, o homenzinho de olhos escuros os fitou com firmeza. Não havia em seus modos uma fagulha de amabilidade. Estava aprendendo de cor as fisionomias, porém não sentia interesse por eles. Winston imaginou que um rosto sintético talvez fosse incapaz de mudar de expressão. Sem falar nem fazer qualquer cumprimento, Martin saiu, fechando a porta atrás de si, em silêncio. O'Brien continuava passeando pela sala, uma das mãos no bolso do macacão negro, a outra segurando o cigarro.
- Compreendeis que lutareis no escuro? Estareis sempre no escuro. Recebereis ordens e obedecereis, sem saber porquê. Mais tarde vos mandarei um livro do qual aprendereis a verdadeira natureza da sociedade em que vivemos, e a estratégia pela qual a destruiremos. Quando tiverdes lido o livro, sereis membros integrais da Fraternidade. Mas entre os objetivos gerais pelos quais lutamos, e as tarefas imediatas do momento, nada sabereis. Digo-vos que existe a Fraternidade, mas não posso dizer-vos se conta com cem membros, ou dez milhões. Pelo vosso conhecimento pessoal, não podereis dizer que chega a uma dúzia. Tereis três ou quatro contactos, que serão renovados de tempos em tempos, à medida que desaparecerem. Como este foi vosso primeiro contacto, será conservado. Quando receberdes ordens, será de mim. Se considerarmos necessário comunicar-nos convosco, será por meio de Martin.