Seguiu-a irresoluto por alguma distância, meio passo atrás. Não tornaram a falar. Ela não procurou desvencilhar-se dele, porém andava com passo bastante rápido, de maneira a evitar que a alcançasse. Ele resolvera acompanhá-la até a estação do subterrâneo, mas de repente essa coisa de seguir uma pessoa lhe pareceu insuportável e inútil. Dominou-o o desejo não tanto de se afastar de Júlia como de voltar ao Castanheira, que nunca lhe parecera tão atraente como naquele instante. Teve uma visão saudosa da sua mesinha no canto, com o jornal, o tabuleiro de xadrez e o copo sempre cheio de gin. Sobretudo, não faria frio. No instante seguinte, e não por acaso, ele permitiu que um grupo de pessoas o separasse dela. Fez uma tentativa desanimada de alcançá-la, depois reduziu o passo, voltou-se e saiu na direção oposta. Depois de ter caminhado uns cinquenta metros, voltou-se e olhou para trás. A rua não estava cheia, mas quase não a podia distinguir. Podia ser qualquer daquelas figuras apressadas. Talvez o corpo engrossado e enrijado não fosse mais reconhecível por trás. "Na hora que acontece a gente fala sério", dissera ela. Ele falara sério. Não apenas o dissera: desejara-o. Desejara que ela e não ele sofresse os...
Algo se modificou na música que escorria da teletela. Dominava-a, partida e zombeteira, uma nota amarela. E então - talvez não estivesse acontecendo, talvez fosse apenas uma lembrança tomando forma de som - uma voz cantou: "Sob a frondosa castanheira Eu te vendi e tu me vendeste... Os olhos de Winston ficaram rasos de água. Um empregado que passava observou o copo vazio e voltou com a garrafa de gin. Ergueu o copo e cheirou-o. Quanto mais bebia, mais horrível se tornava a tisana.