O cavalo escorregava sobre a erva molhada; Charles baixava-se para passar sob os ramos. Os cães de guarda, amarrados às suas casotas, ladravam, esticando as correntes. Quando entrou nos Bertaux, o cavalo assustou-se e fez um grande recuo.
A propriedade tinha bom aspecto. Viam-se nas estrebarias, pelos postigos abertos nas portas, alentados cavalos de lavoura, comendo tranquilamente em manjedouras novas. Ao longo dos edifícios estendia-se uma grande estrumeira fumegante e, entre as galinhas e os perus, disputavam a comida cinco ou seis pavões, aves de luxo das capoeiras de Caux. A estrebaria era comprida e o celeiro alto, de paredes lisas como a palma da mão. Debaixo do telheiro havia duas grandes carroças e quatro charruas, com os chicotes, peitorais e todos os arreios, cujas peles de carneiro, tingidas de azul, se sujavam com o pó fino que caía dos sótãos. O pátio subia, plantado de árvores simetricamente distanciadas, e ouvia-se o alegre grasnar de um bando de patos junto do charco.
Com um vestido de merino azul guarnecido de três folhos, assomou à porta da casa, para receber o Dr. Bovary, uma mulher jovem, que o mandou entrar para a cozinha, onde crepitava um bom fogo, em volta do qual fervia o almoço dos trabalhadores, em pequenas panelas de vários tamanhos. Havia roupa molhada a secar na chaminé. A pá, a tenaz e o bico do fole, tudo de proporções colossais, brilhavam como aço polido, enquanto pelas paredes se espalhava uma vasta bateria de cozinha, onde se reflectia de modo irregular a chama clara do lume, juntamente com os primeiros raios de sol que entravam pelas vidraças.
Charles subiu ao primeiro andar para ver o doente. Encontrou-o na cama, transpirando debaixo dos cobertores, depois de ter já atirado para longe o seu barrete de algodão.