.. Adeus! Vou para longe..., tão longe que não ouvirá falar mais de mim!... Hoje, no entanto..., não sei que força me impeliu ainda para si! Porque não se pode lutar contra o Céu, não se resiste ao sorriso dos anjos! Somos sempre arrastados pelo que é belo, encantador, adorável!
Era a primeira vez que Emma ouvia alguém dizer-lhe estas coisas; e o seu orgulho, como quem se espreguiça numa estufa, todo se dilatava brandamente ao calor daquela linguagem.
- Mas, se não vim - continuou ele -, se a não pude ver, oh!, pelo menos demorei-me a contemplar tudo aquilo que a rodeia. À noite, todas as noites, levantava-me, vinha até aqui, contemplava asua casa, o telhado que brilhava ao luar, as árvores do jardim que balouçavam à sua janela e uma pequena lâmpada, uma luzinha que brilhava na sombra, através da vidraça. Ah! Mal sabia que ali, tão perto e tão longe, se achava um pobre miserável...
Emma voltou-se para ele com um soluço.
- Oh!, o senhor é bom! - disse ela.
- Não; é que a amo, só isso! Não pode duvidar! Diga-me uma palavra! Uma única palavra!
E Rodolphe, insensivelmente, deixou-se escorregar do tamborete para o chão; mas ouviu-se o ruído de tamancos na cozinha, e a porta da sala, conforme reparou, não estava fechada.
- Como seria generosa - prosseguiu ele enquanto se levantava - se satisfizesse uma fantasia minha!
Queria ver a casa; desejava conhecê-la; e, como a Sr. Bovary não visse nisso inconveniente, ambos se levantavam, quando Charles entrou.
- Bom dia, Sr. Doutor - disse-lhe Rodolphe.
O médico, lisonjeado com o inesperado tratamento, desfez-se em obséquios e o outro aproveitou para recobrar um pouco a calma.
- A senhora estava-me falando da sua saúde... - começou ele a dizer. Charles interrompeu-o andava realmente muito inquieto a esse respeito; as opressões que sua mulher sentia recomeçavam.