Emma não quis acreditar; redobrou de ternura; e Rodolphe foi escondendo cada vez menos a sua indiferença.
Ela não sabia se lastimava ter-lhe cedido, ou se não desejava, pelo contrário, querer-lhe ainda mais. A humilhação de se sentir fraca transformava-se num rancor que se acalmava com as voluptuosidades. Não era dedicação, era uma espécie de sedução permanente. Ele subjugava-a. Ela quase que tinha medo dele.
Apesar disso, as aparências eram mais serenas que nunca, porque Rodolphe conseguira conduzir o adultério segundo a sua fantasia; e, ao fim de seis meses, quando chegou a Primavera, encontravam-se, um em relação ao outro, como duas pessoas casadas que alimentam tranquilamente uma chama doméstica.
Era a época em que o Tio Rouault enviava o seu peru, em recordação da perna curada. O presente chegava sempre com uma carta. Emma cortou o fio que a prendia ao cesto e leu as seguintes linhas
Meus queridos filhos
Espero que esta vos possa encontrar de boa saúde e que o peru seja tão bom como os outros; ele até me parece um pouco mais tenro e mesmo mais carnudo. Mas, da próxima vez, para variar, vou mandar um galo, a não ser que mantenham a preferência pelos perus; e devolvam-me a cesta, por favor, juntamente com as duas anteriores. Tive um azar com a cocheira; numa noite de muito vento fli-se-me a cobertura pelos ares. A colheita também não foi muito famosa. Enfim, não sei quando vos poderei ir ver. Agora é-me tão dificil deixar a casa, desde que estou só, minha boa Em ma!
E seguia-se um intervalo entre as linhas, como se o pobre homem tivesse deixado cair a pena para meditar por algum tempo.
Quanto a mim, vou passando bem, a não ser uma constipação que apanhei no outro dia na feira de Ivetot, onde fui contratar um pastor, porque tinha mandado o meu embora por ser de má boca.