voltara para trás e passara toda a noite a meditar num plano.
Então, no dia seguinte, pelas cinco horas, entrou na cozinha da estalagem com a garganta apertada, a face pálida e aquela determinação dos cobardes que nada consegue deter.
- O senhor não está - respondeu um criado. Isto pareceu-lhe de bom augúrio. Subiu.
Ela não se mostrou perturbada com a sua presença; pelo contrário apresentou desculpas por se ter esquecido de lhe dizer onde estavam hospedados.
- Oh!, eu adivinhei - retorquiu Léon.
-Como?
Ele pretendeu ter sido guiado por ela, ao acaso, por instinto Emma sorriu e, para remediar a tolice, Léon contou que passara toda a manhã a procurá-la, sucessivamente em todas as estalagens da cidade.
- Decidiu-se então a ficar? - acrescentou ele.
- Sim, mas fiz mal. Não nos podemos acostumar a prazeres impraticáveis quando à nossa volta se apresentam mil e uma exigências... Pois e. magro...
- Isso é que não, porque você não é mulher.
Mas os homens tinham também os seus desgostos, e a conversa encaminhou-se para algumas reflexões filosóficas. Emma alargou-se muito acerca da miséria das afeições terrenas e do eterno isolamento em que o coração se conserva encerrado.
Para se fazer valer, ou por uma ingénua imitação daquela melancolia que provocava a sua, o rapaz afirmou ter vivido extraordinariamente aborrecidodurante todo o tempo dos estudos. As questões jurídicas irritavam-no, sentia-se atraído por outras vocações e a mãe não deixava de o atormentar em todas as cartas que lhe escrevia. Cada um explicitava cada vez mais os motivos da sua dor, à medida que ia falando, entusiasmando-se um pouco naquela confidência progressiva. Detinham-se, porém, algumas vezes diante da exposição completa da sua ideia e procuravam então imaginar uma frase que a pudesse resumir.