Havia em cima do relógio um pequeno Cupido de bronze que, num requebro, arqueava os braços sob uma grinalda dourada, muitas vezes se riam dele; mas, quando tinham de se separar, tudo lhes parecia sério.
Imóveis diante um do outro, repetiam:
- Até quinta-feira!... Até quinta-feira!
Subitamente, ela agarrava-lhe a cabeça com as duas mãos, dava-lhe um rápido beijo na testa, exclamando: «Adeus!», e corria pela escada.
Ia à Rue de La Comédie, a um cabeleireiro, arranjar o penteado. A noite caía e acendiam o gás no salão.
Ouvia a sineta do teatro chamando os actores para a representação e via passar, em frente, homens de cara rapada e mulheres com vestidos desbotados, que entravam pela porta dos bastidores.
Fazia calor no pequeno aposento atarracado, onde o fogareiro sussurravano meio de perucas e pomadas. O cheiro dos ferros e aquelas mãos engorduradas que lhe arranjavam a cabeça não tardavam a atordoá-la e dormitava um pouco no penteador. Muitas vezes o cabeleireiro, enquanto a penteava, oferecia-lhe bilhetes para o baile de máscaras.
Depois ela ia-se embora! Voltando a subir as mesmas ruas, chegava à Cruz Vermelha; punha novamente os tamancos, que escondera de manhã debaixo dum banco, e tomava o seu lugar no meio dos passageiros impacientes. Alguns apeavam-se ao pé da encosta. Às vezes ficava sozinha na diligência.
A cada curva, cada vez se ia vendo melhor a iluminação da cidade, que formava um denso vapor luminoso por cima das casas aglomeradas. Emma punha-se de joelhos sobre os bancos almofadados e deixava divagar os olhos por aquele deslumbramento. Soluçava, chamava por Léon e dirigia-lhe palavras de ternura e beijos que se perdiam no vento.
Vivia no monte um pobre diabo vagabundo com o seu cajado.