Esta ideia consolou-o. Além disso, disse para consigo que uma aventura daquelas o arrastaria decerto demasiado longe.
«Que miserável! Que patife!... Que infâmial», ia Emma pensando enquanto se escapava com andar nervoso sob os choupos da estrada. A desilusão do mau êxito reforçava-lhe a indignação do pudor ultrajado; parecia-lhe que a Providência se empenhava em persegui-la, e, estimulando-se-lhe o orgulho com esta ideia, sentiu, mais do que nunca, uma grande estima por si mesma e um profundo desprezo pelos outros. Havia qualquer coisa de belicoso a dominá-la. Sentia vontade de bater nos homens, cuspir-lhes na cara, esmagá-los todos; e continuava a avançar rapidamente, pálida, trémula, enraivecida, perscrutando com os olhos rasos de lágrimas o horizonte vazio, quase sentindo prazer no ódio que a sufocava.
Quando avistou a sua casa, sentiu-se entorpecer. Não conseguia avançar mais; no entanto era necessário; além disso, para onde havia de fugir?
Félicité esperava-a à porta. - Então?
- Nada! - respondeu Emma.
E, durante um quarto de hora, as duas mulheres foram fazendo uma lista das várias pessoas de Yonville que poderiam estar dispostas a socorrê-la. Mas, todas as vezes que Félicité mencionava alguém, Emma replicava:
- É lá possível! Eles não vão querer!
- E o patrão que está quase a chegar!
- Bem sei... Deixa-me só.
Tentara tudo. Não havia agora mais nada a fazer; e, quando Charles aparecesse, dir-lhe-ia então:
«Retira-te. Esse tapete que pisas já não é nosso. Da tua casa, já não tens um único móvel, nem um alfinete ou uma palha, e fui eu quem te arruinou, pobre homem!»
Haveria então um enorme soluço, depois ele choraria copiosamente e no fim, passada a surpresa, perdoar-lhe-ia.
«Sim», murmurava ela rangendo os dentes, «vai-me perdoar, ele que não achava suficiente oferecer-me um milhão para que o desculpasse de me haver conhecido.