As sua expansões haviam-se tornado regulares; beijava-a a determinadas horas. Era um hábito entre outros, como uma sobremesa previamente preparada, após a monotonia do jantar.
Um couteiro, curado pelo médico duma pneumonia, oferecera à senhora uma galgazinha de Itália; ela levava-a a passear, pois às vezes saía para passar uns instantes só e não ter sempre na frente dos olhos o eterno jardim com o caminho poeirento.
Ia até às faias de Banneville, ao pé do pavilhão abandonado que marcava a esquina do muro, do lado dos campos. Há ali na vala, no meio da vegetação, compridos caniços de folhas afiadas.
Começava por observar as cercanias, para ver se alguma coisa se modificara depois da última vez que ali fora. Encontrava nos mesmos lugares as digitais, as boninas, as moitas de ortigas envolvendo as grandes pedras e as placas de líquen ao longo das três janelas, cujas persianas, sempre fechadas, se desfaziam de podre nos varões enferrujados. O pensamento, de início sem qualquer objectivo, vagueava-lhe ao acaso, como a galga, que descrevia círculos pelo campo, ladrava contra as borboletas amarelas, dava caça aos musaranhos, ou mordiscava as papoilas na periferia duma seara. Depois, as ideias iam-se-lhe fixando a pouco e pouco e, sentada na relva; que ia escavando lentamente com a ponta da sombrinha, repetia consigo mesma: «Oh, meu Deus! Mas por que me casei eu?»
E perguntava a si própria se não poderia ter havido meio de, por outras combinações do acaso, encontrar outro homem; procurava imaginar como teriam sido esses acontecimentos não sobrevindos, essa vida diferente, esse marido que não conhecia. Nem todos, com efeito, se pareciam com aquele. Poderia ter sido belo, espiritual, distinto, atraente, como seriam, sem dúvida, os que casaram com as suas antigas colegas do convento.