Foi Margarida quem lhe falou. Passados os usuais cumprimentos, e depois de tentar recusar o oferecimento do cálice de vinho que Margarida lhe fazia. e que afinal sempre aceitou, trouxe a Sr.ª Joana à conversa o assunto que a preocupava.
- Então diga-me cá uma coisa, menina. Que lhe parece o nosso cirurgião novo?
Margarida fitou os olhos em Joana, como para adivinhar-lhe nas feições o sentido da imprevista pergunta.
- Que me parece? Que me há-de parecer?
- Sim; não acha que está um bonito médico para uma rapariga doente mandar chamar? - continuou Joana, sorrindo.
Ignorando ao que a velha criada de João Semana queria aludir, a pupila do reitor, a seu pesar, sobressaltou-se com esta interrogação.
- Mas... porque me pergunta você isso?
- Pois não sabe?! Ora a menina que há-de andar sempre fora deste mundo! Aposto que não sabe o que por aí vai com o Daniel?
- Não - respondeu Margarida, sem já poder disfarçar a sua curiosidade, à qual certa inquietação, por ela mesma mal explicada, se vinha misturar.
- É o que eu digo! - tornava Joana.
- Mas então que há?
A Sr.ª Joana com a melhor vontade informou Margarida da história da menina Francisca; já se sabe, com muita severidade de comentários para com ela, e a costumada indulgência para com Daniel.
- Aquela bandeira de torre - dizia ela - volta-se para onde lhe sopram. Louvado seja Deus! Não há olhos para que se não enfeite. E ainda o acusam a ele! Faz muito bem; é rapaz.