V No dia seguinte, que era um domingo, vestia-se o reitor na sacristia, para celebrar a missa conventual. Entre as diversas pessoas que assistiam a este acto, avistou ele o nosso conhecido José das Dornas, e a lembrança do ocorrido na véspera surgiu-lhe outra vez ao espírito, acompanhada de todas as circunstâncias desagradáveis que se deram então. Durante a noite, havia o padre, a sós com o travesseiro, tomado uma resolução. Foi pensando nela que, no momento em que José das Dornas se aproximou mais do lugar, em que ele se aparamentava, lhe disse:
- Logo, depois da missa, espera-me lá fora, no adro, que temos que conversar.
José das Dornas fez um sinal de assentimento, e entrou para a capela.
Nada ocorreu durante a missa, que exija especial referência.
Foi dita pelo reitor com todas as formalidades do ritual, e escutada pelo auditório, e principalmente por José das Dornas, com respeitosa atenção.
Acabada ela, formaram-se diferentes grupos pelo adro, do qual frondosa alameda fazia, naquela época do ano, um dos lugares mais apetecíveis da terra; José das Dornas trocou meia dúzia de palavras com alguns conhecidos seus. Falou no tempo, no aspecto das searas, nas mudanças de lua, e, pouco a pouco, foi ficando cada vez mais desacompanhado, porque os aldeãos iam dispersando, atraídos pela lembrança do jantar, que os esperava.
Finalmente achou-se de todo só e pôs-se, de mãos nos bolsos, a passear no adro. No entretanto ia fazendo suas conjecturas sobre os motivos que levariam o reitor a mandá-lo esperar, e sobre a natureza da conversação que ia ter com ele.
Estas conjecturas porém não lhe ofereciam solução que o satisfizesse e, muito razoavelmente, acabou o homem por se decidir a esperá-la do entretenimento que não podia tardar.