Ao deixar José das Dornas, na tenda do seu vizinho da esquina, o reitor apoiado na grossa bengala de cana, companheira fiel das fadigas de muitos anos, foi seguindo pelos caminhos pouco cómodos da sua paróquia, e entrando nas casas mais pobres, onde levava a esmola e o conforto de doutrinas evangélicas, que tão singelamente sabia pregar.
Era esta para ele tarefa habitual.
Senta-se com familiaridade à cabeceira do jornaleiro doente, ele próprio lhe arrefecia os caldos, lhe temperava os remédios e lhos ajudava a tomar; guiava com os conselhos e ensinava com o exemplo os enfermeiros, que, entre a gente pobre dos campos, são quase sempre os mais pequenos da família, aqueles que, pela idade, representam ainda uma parte pouco produtiva de receita; porque os outros reclamam-nos as exigências imperiosas do trabalho.
No cumprimento desta obra de misericórdia, atravessou o reitor quase toda a aldeia, e, com o coração apertado pelos infortúnios que vira, e desafogada a consciência pelo bem que fizera, continuava placidamente a sua tarefa abençoada.
Depois de muito andar e de muito consolar misérias, parou algum tempo por baixo das faias, que assombravam um largo terreiro, e sentou-se com o fim de ganhar forças para prosseguir.
Enquanto descansava, foi dar balanço às algibeiras, que trouxera bem providas de casa. Este balanço foi desanimador para os projectos ulteriores do velho. A esmola, essa sublime gastadora, que nunca abandonava a direita do pároco nestas visitas pastorais, havia-lhe esgotado o capital, sem que ele desse por isso.
O reitor mostrou-se mortificado; não que lamentasse o dinheiro, gasto assim, mas porque estava longe de casa, e tinha ainda mais infelizes a socorrer.
Poucas cogitações financeiras de um ministro de estado, perante um deficit do orçamento, valem as do pároco naquela ocasião.