sentaram; além, o ribeiro, que arrebatou na corrente as pétalas, desfolhadas um dia, do bem-me-quer fatídico, que os amantes interrogam; o tronco, onde se gravaram unidas as iniciais de dois nomes; o canto dos pássaros, que tantas vezes escutaram; o ponto da perspectiva, mais procurado pelas vistas de ambos... Oh! há bem mais alimentos para as saudades assim! E depois, o que se ausenta vai esperançado nisto mesmo, em que a afeição que deixa, lhe será fielmente mantida até à volta; que evitarão o esquecimento das promessas feitas tantas testemunhas que as presenciaram e que, sem cessar, as recordarão; os que ficam antevêem que, longe de tudo que possa falar-lhe delas, pouco a pouco se varrerão essas promessas da memória do ausente, e, ao dizer o adeus da despedida, um amargo pressentimento lhes segreda que dizem adeus a uma ilusão.
Ora é preciso saber que Margarida se sentia triste, profunda e inconsolavelmente triste, sem que lhe acudisse à ideia tudo quanto havemos dito. Porém, a nós, é-nos lícito analisar aquele tenro coração de criança, afeiçoado para o sentimento, e dotado de delicadíssimos instintos, como o de poucos. Alma votada à melancolia e que se habituara a sentir, sem se estudar!... Não há para mim mais simpática espécie de sofredores! Os mártires que se analisam, e nos fazem resenha e inventário dos seus tormentos; esses que, todos os dias, desenvolvem em estilo imaginoso a fisiologia do próprio coração, indagam a teoria do padecer, que, dizem eles, os tortura, e o fazem, com uma profundeza de vistas, verdadeiramente filosófica...
esses mártires... para falar verdade, não creio muito neles. Quem sofre deveras, tenho eu para mim, acha-se com pouca vontade de esquadrinhar os mistérios do sofrimento e não se põe com grandes filosofias a esse respeito.