Ora é preciso saber que Margarida se sentia triste, profunda e inconsolavelmente triste, sem que lhe acudisse à ideia tudo quanto havemos dito. Porém, a nós, é-nos lícito analisar aquele tenro coração de criança, afeiçoado para o sentimento, e dotado de delicadíssimos instintos, como o de poucos. Alma votada à melancolia e que se habituara a sentir, sem se estudar!... Não há para mim mais simpática espécie de sofredores! Os mártires que se analisam, e nos fazem resenha e inventário dos seus tormentos; esses que, todos os dias, desenvolvem em estilo imaginoso a fisiologia do próprio coração, indagam a teoria do padecer, que, dizem eles, os tortura, e o fazem, com uma profundeza de vistas, verdadeiramente filosófica...
esses mártires... para falar verdade, não creio muito neles. Quem sofre deveras, tenho eu para mim, acha-se com pouca vontade de esquadrinhar os mistérios do sofrimento e não se põe com grandes filosofias a esse respeito.