Deve decerto admirar-se da pessoa que escolhi para confidente das nossas relações; posso, porém jurar-lhe que esse pobre rapaz, que o senhor detestou e que nos persuadimos ser nosso inimigo, é, ao contrário, o único ente que se interessa pela nossa felicidade, sendo um amigo fiel e sincero em quem podemos depositar toda a confiança. Mais tarde dar-lhe-ei explicações mais claras de tudo isto; por enquanto só lhe peço que o trate como um seu amigo e pode confiar-lhe tudo sem reserva.
Fernandinho, por quem é, por tudo o que mais preza nesta vida lhe peço que se lembre da sua Rosa, daquela que sacrificaria por si a própria vida, que não a trate com tanto desprezo. Se soubesse como os dias têm corrido para mim tristes e desesperadores...
Minora-me no entanto o desalento a esperança de que terminarão para mim um dia todos estes martírios, gozando então junto de si essa felicidade, que me prometeu e que eu anelo com delírio.
Fernandinho, ainda outra vez lhe rogo que não se esqueça das suas promessas; o seu amor é a única esperança que me resta no mundo, e, fugindo ela, Deus sabe o que será de mim...
Termino, esperançada em que desta vez não recusará uma resposta que venha encher de alegria o coração atribulado da Sua até à morte,
Rosa"
Ao terminar a leitura destas últimas linhas, Fernando mal podia disfarçar a sua inquietação, a ponto de a carta lhe tremer nas mãos. Forcejou no entanto por sossegar e, dirigindo-se à baronesa, exclamou:
- V. Exa. dá-me licença? Necessitava responder a esta carta.
- Pois não, Sr. Fernando; tenha a bondade de entrar na sala imediata, onde encontrará tudo o que precisa para escrever.
- Anda comigo, António - disse Fernando ao rapaz, e encaminharam-se ambos para a sala designada.