Se alguma vez a descrença e a dúvida lhe torturavam o coração, as cartas do seu amante vinham desfazer-lhe essas más apreensões e então cria-se feliz.
Em breve, porém, novas angústias, novas dúvidas e incertezas vieram aniquilar-lhe as esperanças e desfazer-lhe as doces ilusões que a embalavam.
As cartas de Fernando começavam a rarear e o seu conteúdo era de um laconismo e frieza bem notáveis.
Dir-se-ia, ao lê-las, que o amor de Fernando ia de dia para dia decrescendo, e que o tédio e a indiferença substituíam, pouco a pouco, o ardor primitivo dos seus afetos.
A pobre jovem já não podia ler as tardias missivas sem se lhe inundarem os olhos de abundantes lágrimas e o coração sangrar-lhe gotas de amargurado fel. Principiava de novo para ela esse martírio de dores, e a descrença revivia na sua alma com mais insistência do que nunca.
Por mais afetuosas que fossem as suas cartas, por mais e mais rogos que fizesse para Fernando lhe confessar os motivos dessa repentina mudança, as respostas eram sempre frias e despidas completamente das inebriantes frases que outrora empregara.
Rosa esforçava-se desesperadamente por pacientar-se e resignar-se com a sua sorte, fantasiando na mente mil suposições pelas quais tentava desculpar essas demoras de correspondência e o abandono a que parecia estar lançada; porém, tudo era inútil para sossegar-se.
Afinal, o golpe decisivo veio ferir, no mais sensível, o coração da desventurada rapariga.
Havia um mês que Fernando deixara de escrever-lhe, sem ao menos explicar a causa dessa interrupção.
Ainda tentou iludir-se a infeliz e, de vez em quando, dizia de si para consigo:
- Quem sabe se ele não me escreverá por falta de saúde, pelas suas ocupações, ou mesmo por não lhe chegarem