Já vês, pois, quais têm sido as minhas intenções, e em face delas ainda duvidarás de mim e não quererás aceitar o meu auxílio e conselhos?"
- Seria duplamente ingrata se não os aceitasse, António. Julguei-te sempre bom e generoso, mas nunca tanto como acabas de mostrar-te. Oxalá que os teus esforços sejam coroados de bom êxito, mas, duvido: a esperança, único sentimento que nunca me abandonou, começa agora a afastar-se do meu coração, e a ventura que entrevia neste mundo só poderei tê-la quando a minha alma voar à mansão dos infelizes que sofreram na terra; para mim só resta o sossego e a paz que se goza além do túmulo.
- Não desesperes: Fernando, se te não ama cegamente, pelo menos deve ter-te afeição, e, se assim suceder, muito desumano e falto de brio seria se te abandonasse.
- Ah! meu António, segundo ouço dizer, quase todos os homens assim são. Antes de conseguirem os seus fins e de satisfazerem os seus caprichos, fazem mil protestos e mil juras de amor; depois, porém, esquecem-se de tudo e abandonam nas mãos do acaso a pobre vítima que imolaram aos seus desejos. Além disso, fui eu própria que me deixei arrastar para a minha desgraça.
- Descansa, Rosa; Fernando há de desposar-te...
- Deus te ouça, António.
- E, se não lavar a nódoa com que te manchou, outra mulher não há de ele possuir!... Agora, Rosa, que o dia vai aclarando, é preciso que ninguém nos surpreenda nesta conversa a tais horas.
- Que desejas pois que eu faça?
- O seguinte: primeiro que tudo voltarás para a tua casa, a fim de que a tua avó não saiba da tua saída. Depois, continuarás ainda a escrever a Fernando; se ao fim da terceira carta não obtiveres resposta alguma, participar-mo-ás, para se combinar o que convém fazer. Recomendo-te também que nestas últimas cartas empregues todas as frases, todas as súplicas para comoveres o seu coração e nada mais.