Ora eis tudo o que se deu.
Rosa quase que nem ouvira as últimas palavras de António, tal era a abstração em que ficara.
O rapaz, ao vê-la assim abatida, exclamou:
- Rosa, que tens que te aflige?
- Queres saber, António? - respondeu ela como acordando daquele Largo. - Assalta-me um triste pressentimento: Fernando jamais me desposará; ia jurá-lo, se tanto fosse preciso.
- Mas que motivo tens para assim pensares?
- Fala-me com franqueza: Que pensas tu dessas visitas continuadas que Fernando faz a casa da baronesa, como acabaste de dizer?
- Nada absolutamente...
- E não crês que o único motivo que o leva todas as noites a casa da baronesa seja a Deolindinha?
- Por ora não posso crer; mas, como ele vem falar-te no sábado, melhor poderás saber isso; por enquanto nada de juízos temerários.
Chegou afinal o dia aprazado.
Rosa, se por um lado parecia desejar a chegada de Fernando, por outro também temia esse encontro, como se dele dependesse a sua sorte futura. Perto da meia-noite desse dia, Fernando, cuidadosamente embuçado numa ampla capa de viagem, descavalgava nas proximidades da habitação de Rosa e, depois de prender o cavalo ao tronco de uma árvore, dirigiu-se para o quintal da casa, e fez o mesmo sinal porque antigamente se anunciava.
Rosa, que desde o anoitecer se conservara acordada e atenta, não se fez esperar muito tempo e correu imediatamente a encontrar-se com Fernando.
Foi uma cena patética em que, depois de alguns meses de ausência, aquelas mãos se apertaram freneticamente e aqueles lábios se uniram para dar o beijo das boas-vindas.
Fernando não se eximira àquelas demonstrações de afeto, e, pelo contrário, respondeu a elas com o mais sincero carinho, o que bem claramente demonstrava que no seu peito havia alguma coisa mais do que uma simples afeição para com aquela mulher.